domingo, 27 de março de 2011

Religiões e Religiosidade - Grupos Religiosos nos dias de Jesus (20-03-2011)

Dificilmente encontraremos no mundo uma religião formada por uma única corrente de pensamento. Mesmo entre os grupos reconhecidos como ortodoxos, não são poucas as diferenças nas posições e nas interpretações do sagrado.

O Judaísmo nunca foi uma exceção à regra. Nos dias de hoje temos os grupos ortodoxos, reformados, místicos, entre outros. Na Idade Média, surgiram a Cabala e o Hassidismo. Nos dias de Jesus, as "denominações" judaicas também eram numerosas. No estudo de hoje destacaremos as seguintes: judaísmo popular, farisaísmo, saducaísmo, o zelotismo e essenismo.

É interessante observar que os maiores opositores aos profetas no Antigo Testamento e a Jesus no Novo Testamento foram os representantes da religião institucional. Devemos refletir sobre isso continuamente, principalmente nós que nos consideramos pessoas religiosas hoje. Como observou Gamaliel no livro de Atos, devemos ser muito cuidadosos em nossos julgamentos para que, "porventura, [não sejamos] achados lutando contra Deus" (At 5:39).

No tempo de Jesus, o povo estava entregue a um conhecimento superficial e ritualístico da Aliança de Deus com Israel. A vida religiosa se limitava à observação de festividades, ofertas, sacrifícios e da guarda do sábado.

O templo estava nas mãos da elite política da nação, cética e mais preocupada em manter o status quo através das boas relações com os dominadores romanos. Os sacerdotes e os líderes do templo pertenciam em grande parte ao grupo dos saduceus e estavam amplamente representados no Sinédrio, a cúpula política e religiosa de Israel. Clique aqui para ler mais sobre as funções do Sinédrio.

Os sacerdotes temiam que Jesus minasse a centralidade do templo na fé do povo.

Além dos sacerdotes, outros segmentos da elite econômica pertenciam ao grupo dos saduceus. Os saduceus não criam na ressurreição, na vida eterna, nem em anjos ou demônios. Guardando as devidas proporções, poderíamos dizer que eram os "materialistas" dos dias de Jesus. Desprezavam o conteúdo espiritualizado da mensagem de Jesus e temiam o efeito social de suas denúncias à indiferença dos ricos quanto às advertências da Palavra de Deus em relação à justiça social.

Os fariseus aparecem como o grupo mais criticado nos evangelhos. Perushim em hebraico, os fariseus se autoproclamavam os "separados". Pretendendo ser os seguidores radicais da Lei, consideravam-se superiores aos outros judeus, especialmente o povo simples e inculto. A maior parte dos escribas e doutores da Lei pertenciam a esse grupo. Jesus expôs a distância entre o ensino dos fariseus e o verdadeiro conhecimento de Deus que busca a conversão do coração e não o cumprimento mecânico de regras.

Os fariseus e os saduceus, expostos e humilhados pelo Logos de Deus, endurecidos e longe do arrependimento, uniram-se para prender, julgar e matar Jesus através de artifícios enganosos.

Além dos sacerdotes, saduceus e fariseus, podemos ainda mencionar dois outros grupos religiosos do judaísmo nos dias de Jesus: os zelotes e os essênios.

Os zelotes compunham um grupo politizado que buscava organizar uma revolta civil contra a opressão romana, inspirando-se no modelo dos Macabeus.

Em um outro extremo, ficavam os essênios que, abandonando a sociedade, formavam uma sociedade monástica no deserto, aguardando a batalha final do Bem contra o Mal. Eram celibatários e foram esquecidos pela história durantes 19 séculos, até que foram descobertos os manuscritos do Mar Morto que revelaram muitos detalhes do comportamento desse grupo.

Alguns historiadores tentam ligar João Batista e o próprio Jesus à comunidade dos essênios. Mas basta aprofundar-se nas palavras de Jesus para constatar a distância entre os ensinos. Enquanto os essênios pregavam uma vida separada do mundo, fechada em torno de rituais de purificação, Jesus enviou os seus discípulos para o mundo como sal e luz, providenciando ele mesmo a única solução para o pecado e a impureza da alma: o seu sangue vertido na cruz.

Antes de julgarmos qualquer um desses grupos, devemos considerar cuidadosamente se não corremos o risco de estar agindo como eles agiram nos dias de Jesus:

- Seguindo e ensinando rituais vazios (sacerdotes);

- Sendo legalistas, e sentindo-nos mais puros e mais santos do que os outros (fariseus);

- Buscando estabelecer o Reino de Deus com nossas próprias forças ou através da violência (zelotes);

- Isolando-nos da sociedade dentro das quatro paredes da igreja (essênios);

- Buscando apenas os benefícios e os prazeres desta vida como se não houvesse uma vida eterna (saduceus).

Que as palavras do Evangelho possam expor as nossas verdadeiras motivações, levando-nos diariamente ao arrependimento de obras mortas e de toda arrogância que porventura estejamos abrigando em nossos corações.

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